Construo
minha escrita como quem constrói uma casa. Uma casa sem planta, sem projeto
arquitetônico ou base estrutural. Tijolo, por tijolo. Usando apenas as mãos.
Letra, por letra, palavra por palavra. As ideias surgem e vão sendo conectadas.
Se ao final resultarem em uma construção com porte para abrigar algo, posso
garantir que isso não fez parte de um projeto desenhado. Aconteceu. Se falta
técnica, sobra energia. A CASA ESTÁ VIVA.
Mas casas
não devem viver. Por essa razão, talvez seja conveniente matá-la. Para que possa
servir ao mesmo propósito de outras casas, que se prestam apenas a guardar
coisas, sejam vivas ou mortas.
Caminho
pela rua e vejo casas. Todas mortas. Como devem estar. Como foram feitas para
estar. Mas ao contrário do que se espera, não guardam coisas vivas. Não guardam
coisas mortas. Não guardam coisa alguma. Estão vazias. Ainda mais vazias são as
almas daqueles que se negam a destina-las ao propósito a que foram feitas. O
propósito de abrigar pessoas.
Penso
uma, duas, vinte vezes e não consigo entender porque existem mais casas vazias
do que pessoas sem casa nesse país. Não são as ciências exatas, como a
matemática, que esclarecem a total falta de lógica dessa equação. São as
humanas, que nesse momento não poderiam ter essa denominação. Casas mortas e
vazias geram pessoas mortas e esvaziam a humanidade daquelas que se mantém
aconchegadas em seus lares. Mas casas não matam. As vivas não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário