Hoje eu vejo que eu realmente era uma garotinha bobinha, cheia de
vícios, anseios e expectativas forçadas. Nada que não fizesse parte do padrão
de garotas da minha idade. Mas a questão é justo essa, eu sempre estive muito
além de qualquer padrão. Não que eu estivesse maturidade precoce ou o espírito
antigo, nada parecido. O fato é que sempre mergulhei em minhas idades
com muito mais intensidade. Aos 14 me apresentava mais revoltada e extremista
do que qualquer adolescente complicada. Aos 20 não foi diferente, meu mundo passou a
ser visto de forma bem mais cognitiva
do que o daqueles ao meu lado. Meu poder já estava comprovado, mas minhas
capacidades começaram a ser questionadas, e sem que eu pudesse me defender me
vi perdida dentro da única certeza que sempre dominei, minha identidade. O meu
eu já não era mais certo. O meu universo particular se dividia entre vontades e
prudências, razões e acaso. O
que eu achava querer não era o que conseguia obter. Foi quando me vi diante do
que parecia ser a única solução para esse insuportável desconforto, o sentir me
tiraria do poço. Mas não tirou. Talvez porque não foi devidamente
correspondido, ou talvez porque não se tratava de algo puro, natural ou espontâneo,
mas de uma alternativa maquiada, imaginada e até condicionada. É dolorido admitir, mas o amor que acreditava
sentir nunca existiu de fato. Nenhuma ação cujo fim é o bem pode ser
considerada ruim. Apesar desse sentimento frustrado não ter me tirado das
profundezas, me deu forças para entender que eu precisava sair sozinha,
não seria salva por ninguém.
O amor ainda
é a vertente que me movimenta e foi ele que me tirou das sombras.
Mas não cheguei ao céu, estou bem distante disso, nem tenho a pretensão de
lá estar. Sei que isso acontecerá em dia e hora que desconheço como também sei
que para as trevas posso retornar. Mas não será mais um lugar desconhecido. É, não sou
mais a garotinha bobinha que espera pelo amor em qualquer esquina, talvez
apenas nas esquinas mais coloridas e diferenciadas. Já sei que não é algo que
eu deva buscar, simplesmente aguardar. Encontre-me quando puder, estarei
pronta!