Nunca tive facilidade em medir e mediar os meus
eus em tempos diversos. Entender a uniformidade individual separada por
um lapso temporal nunca foi algo assimilado pela minha consciência. Talvez por
não se tratarem do mesmo ser. Não são indivíduos independentes, mas
interdependentes.
Poderiam,
seres tão dissemelhantes e peculiares serem o
mesmo? Ainda que seja incontestável o fato de serem oriundos da soma de
memórias uns dos outros?
Nem lembranças, pensamentos ou mesmo ideias
escapam dessa disparidade. Antigas memórias perdem o foco, novos pensamentos
tomam lugar dos antigos e até mesmo, ideologias se reformulam. Definitivamente, não se trata
do mesmo ser.
Apesar de
todas essas dúvidas e questionamentos, chamar de Eu aquela garotinha de oito
anos, me é mais razoável do que estranho. Mas o razoável, proveniente de
elucidações científicas e filosóficas, nem sempre nos remate a conclusões
aceitáveis ou digeríveis.
Minha
capacidade de amar seres diferentes daqueles que
me são refletidos no espelho coloca todos esses argumentos em contradição.
Surge uma forma diferenciada de auto-amor, em que o ser estimado e amado não é
somente o refletido no momento em que a luz penetra no espelho, mas aqueles que
nunca mais nele poderão ser observados.
Curiosamente,
adorar os antigos eus é incrivelmente mais fácil do que amar aquela que
representa a minha identidade no agora.
Todos
esses, são fatores determinantes pra que o “tempo” continue no rol de mistérios
distante de soluções lógicas ou ilógicas. Uma equação de resultado indefinido
nas dimensões conhecidas.
O que eu
sei é que não quero viver aspirando ser o que era, e não suporto a ideia de me
tornar alguém que não ama ter sido quem foi.