Deixei de me incomodar com os trejeitos das pessoas. Com suas expressões, manifestações de vontade, e exteriorizações de opinião.
Já não me incomodo com o tom da voz, jeito de sentar, de falar, de ouvir ou respirar dos seres humanos.
Não me afeto com a inexpressividade, efusividade ou inautenticidade.
Pouco me desalinha a maneira de vestir ou de arrumar o cabelo de qualquer pessoa ou animal.
Nem mesmo o tom desafinado da voz ou os hábitos repetitivos e meticulosos me despertam qualquer tipo de irritação.
Logo eu que antes perdia a paz com qualquer olhar torto, sotaque carioca ou cabelo mal cortado. Simplesmente deixei de me importunar com tudo isso.
A palavra correta é importunar e não importar. Sigo reparando em todos os detalhes. E se reparo é porque de alguma forma dou importância.
Mas dou importância sem me importar.
Infelizmente nem todo o mundo exterior passou pela mesma transformação, ele continua sendo afetado pelo meu jeito de falar, de vestir e de respirar.
E se antes eu conseguia assimilar bem e até aceitar o desconforto que minha presença gerava nos outros, agora entendo mal e aceito menos.
A qualidade que adquiri com a evolução natural do aprendizado também veio ao lado da dificuldade de compreensão com aqueles que não desenvolveram esse atributo.
O desafio é conciliar as duas perspectivas.
No momento em que adquiri a prerrogativa de não me amarrar ao mundo externo, passei a ter de conviver com o embaraço de me incomodar com o que gero nesse mundo.
Mesmo que seja um estado transitório e que a capacidade de compreensão esteja se elevando com o tempo. Estou ciente que a superação trará outro obstáculo, que pode não vir em conjunto com a corda que me levou a supera-lo.